sexta-feira, dezembro 09, 2011

Coréia causa inveja ao Japão!




Japão descobre que

o bom é ser coreano

Depois de séculos de desprezo, a Coréia
causa inveja e admiração aos japoneses
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Cristiano Dias - Edição 1 697 - 25 de abril de 2001 - VEJA on-line
Matéria retirada na íntegra do site da revista Veja!


Produção de chips na Coréia do Sul: lição de agilidade econômica 

Os japoneses sempre desprezaram os coreanos. No Japão, até pouco tempo atrás, nada que vinha da Coréia prestava. Considerados cidadãos de segunda classe desde que foram humilhados pela ocupação imperial japonesa, no início do século XX, os coreanos engoliam seco e se escondiam atrás de um complexo de inferioridade que sempre deixou o país à sombra da ilha do Sol Nascente. As regras dessa relação estão mudando rapidamente e a Coréia do Sul vem herdando do Japão a vanguarda da Ásia. Acostumados a ditar a moda da região, os nipônicos estão assistindo a um florescimento da indústria cultural coreana, mais ocidentalizada e bem menos cafona. Aos poucos, o japonês vai descobrindo que é chique ser coreano. Recentemente, uma pesquisa oficial mostrou que mais da metade deles inveja os vizinhos. Há alguns anos, isso era impensável. O Japão invadiu a Coréia em 1910, proibiu a população de falar coreano e obrigou todo mundo a servir no Exército imperial durante a II Guerra. Mesmo com a derrota, em 1945, os japoneses continuaram a considerar a Coréia o quintal de casa, e a recuperação econômica do pós-guerra só fez aumentar o nacionalismo e a supremacia nipônica na região.

A Coréia do Sul começou a virar o jogo quando se livrou da ditadura, em 1987. Sem o conservadorismo dos militares, o país se ocidentalizou rápido. O grande salto final foi dado após a crise asiática, há quatro anos. Enquanto o Japão descartou reformas estruturais na economia, a Coréia do Sul não se fez de rogada. Aceitou 57 bilhões de dólares do FMI e abriu a caixa-preta dos grandes conglomerados industriais. Fechou 500 instituições financeiras, reduziu o número de bancos de 33 para onze e o país retomou o crescimento. O forte ajuste econômico pavimentou o caminho para que os sul-coreanos passassem a liderar o setor de alta tecnologia, até então amplamente dominado pelos japoneses. O efeito foi imediato. O sucesso da nova economia sul-coreana é impressionante. A Nasdaq Japan, bolsa de valores que negocia ações de empresas da nova economia, instalada há um ano em Tóquio, conta com uma lista de 48 companhias, bem menos que as 610 da Kosdaq, sua semelhante coreana. Toda essa numeralha se reflete na formação de engenheiros mais capazes e criativos. Com isso, os coreanos se tornaram o que era o Japão dez anos atrás. Com mão-de-obra mais barata e maior fluência em inglês, eles começaram a ocupar cargos importantes no setor de tecnologia, inclusive dentro de empresas japonesas. Há alguns anos, a idéia de uma firma japonesa buscar mão-de-obra altamente especializada na Coréia do Sul era um disparate.



Adolescentes japoneses: descrentes dos valores tradicionais 

Outro sinal da mudança de comportamento dos japoneses ficou claro quando a música pop sul-coreana estourou no país. Comparado com a música do Japão, o som dos coreanos é bem mais próximo do pop americano. Essa ocidentalização fez com que uma legião de fãs nipônicos lotasse shows de bandas coreanas. E o que parecia impossível aconteceu: adolescentes japoneses estão aprendendo coreano para cantar e acompanhar seus ídolos. Dentro da Coréia do Sul, a popularidade é tanta que para cada CD estrangeiro são vendidos quatro de pop coreano. Mas a música é só a ponta do iceberg. A reboque vem a moda, outra particularidade coreana que está conquistando a Ásia. Há pouco mais de uma década, os jovens sul-coreanos vestiam roupas tradicionais, como seus pais. Hoje, os bairros de Seul estão apinhados de adolescentes com brincos, piercing, calças largas e cabelo tingido. A fase é tão boa que até as mulheres sul-coreanas viraram símbolo da beleza oriental. Atrás desse ideal, as japonesas invadem os salões de beleza e as lojas de cosméticos de Seul. Com tantos motivos para ir à Coréia do Sul, a expectativa é que pela primeira vez sua capital supere Londres e Nova York como primeira destinação dos ávidos turistas japoneses.

É verdade que o Japão continua sendo o maior colosso da Ásia. Afinal, não se pode desprezar a segunda maior economia do planeta, com um PIB de 5 trilhões de dólares – dez vezes maior que o coreano. Os sinais claros de decadência econômica estão fazendo com que o Japão passe o bastão da prosperidade para os vizinhos. Hoje, o retrato dos japoneses é uma geração de jovens descrentes que cresceu alarmada com as notícias catastróficas sobre os destinos do país e viveu toda a adolescência mergulhada na depressão econômica que já se arrasta por uma década. Frustrados com a vida que levam seus pais, esses jovens têm pavor de se tornar workaholics e querem aproveitar a vida, se possível sem se matar no trabalho. A maioria prefere seguir profissões pouco convencionais, como apresentador de TV, músico e até dono de salão de beleza.


Com cabelo colorido e roupas largas, os jovens japoneses são como seus vizinhos sul-coreanos, mas estão optando cada vez mais por estudos ligados às ciências humanas e abandonando a tradicional carreira de funcionários assalariados de grandes corporações. O drama é que nas próximas duas décadas, devido à queda na taxa de nascimentos, eles serão apenas um terço da população economicamente ativa e terão a tarefa de sustentar quase a metade da população total, que deverá então estar desfrutando a aposentadoria. Com o Japão tropeçando nas próprias pernas, a China isolada pela ditadura comunista e países como Indonésia, Índia e Filipinas vivendo um pandemônio político, a Coréia do Sul aparece como a grande aposta da Ásia. É um oceano de tranqüilidade em meio ao ceticismo que se tornou a marca de um continente em ebulição.



Créditos: Veja On-line